Rodas de Capoeira - Calçadão

Autores: Robson Borges Arantes e Vanderley Pires

Resenha:
Em meados da década de 70 a cidade de Londrina passou a ser palco de grandes nomes do meio da capoeiragem, mestres baianos, cariocas, paulistas entre outros fizeram da cidade rota para apresentações, início de trabalhos e também para testarem suas habilidades e conhecimentos na arte da capoeira. As periferias e o centro da cidade começaram a ser ocupados com academias e grupos de capoeira, cada grupo deste, pertencente a uma linhagem e cada linhagem com seu estilo próprio de praticar a arte, alguns mais voltados para apresentações e por isso mais preocupados com questões mais estéticas outros investem mais nos aspectos de luta da capoeira, investindo mais nos combates e técnicas de defesa e ataque, outros já falavam em práticas educacionais e utilizavam os aspectos pedagógicos da arte, explorando sua história e benefícios que a capoeira proporciona.

Toda esta bagagem precisava de uma válvula de escape para que os treinos não ficassem visíveis apenas nos grupos e comunidades, então iniciou-se as rodas no centro da cidade, especificamente no calçadão, os grupos tinham dias e horários para realizarem estas rodas e cada um as faziam de forma isolada. Mas as invasões de territórios nos bairros, quando um grupo abria uma academia em um bairro que já tinha academia de um outro grupo passaram a ser resolvidas nas rodas do calçadão, um grupo que por algum motivo se sentia ofendido invadia a roda do outro para tirar as devidas satisfações e neste momento as diferenças passaram a ser estudadas e quem não fazia determinado movimento passou a treinar e aprender e por mais que pareça estranho, com o tempo as rodas passaram a ser unificadas e as disputas deram espaço as trocas de experiências o calçadão se caracterizou como este espaço de encontro, troca, disputas e muita música, energia e alegria, quem não vai ao calçadão da cidade ao sábado e não para uns minutinhos para assistir a brincadeira de capoeira?

Como resumir a importância da capoeira? Como história, representou a resistência e luta dos negros e do povo por libertação. Ainda como história cultural, representou integração racial e cultural, transmutando-se em samba, teatro, poesia, cinema e literatura. Cresceu inspirada e inspirando. Mas hoje, não dá para vacilar ao dizer que o que vamos tirar-lhe de mais importante para nós a proposta das rodas é: Alegria e comunhão com a cidade.

Alegria porque a cultura é festa e no que diz respeito a capoeira é celebração popular. Nas rodas, nas ruas, nos comprimentos dos capoeiras e no convívio com o povo. Alegria por que foi uma conquista nossa, em londrina, a ideia da comunhão na roda ao invés da disputa, comunhão também entre os capoeiristas, seus grupos e linhagens. Lutamos por isso e temos compromisso com isso.

É por ter compromisso mesmo que não podemos perder a alegria de fazer capoeira. Nossa proposta de trabalho nas rodas é baseada em estimular nas crianças, jovens e adultos a criação coletiva – uma criação coletiva feita com alegria, onde o papel do mestre é estimular e ensinar a trabalhar com o corpo com respeito (cada um pelo seu e pelo do outro) e com liberdade. Alegria de compartilhar com as diversas linhagens processos, técnicas que nos ajudam a preservar, criar e recriar essa capoeira que inspira e é inspirada para a arte.

A arte que queremos é para comungar com a cidade. Oferecer uma beleza maior, que está nas pessoas quando fazem algo que lhes dá prazer. Nós queremos rodas nas ruas, praças, onde as crianças e jovens possam ter o prazer de mostrar o que aprenderam a fazer e como aprenderam a conviver melhor. Não é justo esconder isso. A prática cultural de Londrina quer a cultura em favor de uma cidade melhor e feliz. E nossa roda quer também.

Nossa ideia de grupo de trabalho é de soma. Acreditamos na autoridade de nossa razão. Na força de nossa roda. Acreditamos em fazer capoeira e ter este espírito de libertação e dança. Na capoeira não se luta e não se dança sozinho!


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